“COM OS MEUS OLHOS”: UMA AUTOETNOGRAFIA PERSPECTIVISTA DA PERCEPÇÃO VISUAL COM NISTAGMO E VISÃO MONOCULAR
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre a percepção visual a partir da realização de uma autoetnografia de meu percurso existencial com nistagmo e visão monocular. A hipótese de pesquisa é que a percepção se configura em uma ação contínua para além de uma resposta a estímulos dados. Por seu turno, a deficiência visual, como um gradiente, se constitui em campo fértil de estudo das diferenças no universo da percepção enquanto ação. A pesquisa utiliza-se de uma perspectiva ecológica e fenomenológica, buscando analisar a percepção como um problema antropológico. A tessitura de uma antropologia da percepção coloca em diálogo, através deste trabalho, as relações entre natureza e cultura e indivíduo e sociedade, ao abordar as configurações que o inato e o adquirido perfazem no corpo deficiente, a partir dos discursos que o caracterizam. Igualmente, dialoga com os estigmas e as liminaridades que perpassam a classificação das deficiências visuais no Brasil, através da narrativa de um percurso de vida. A opção metodológica e de escrita pela autoetnografia é parte constitutiva basilar da hipótese que se deseja provar, pois assume o lugar de fala perspectivado como dado preponderante para se entender a percepção visual, neste contexto.