Artículo

Pontes entre a Antropologia e a Resolução de Conflitos na Abordagem da Reintegração das Crianças-Soldado em Moçambique

No período pós-guerra civil (1976-1992), muitas famílias realizaram rituais para purificar os que voltavam da guerra e aliviar o seu sofrimento. Os espíritos dos mortos que com eles tinham estado em contacto, tê-los-iam ensombrado e eles seriam uma via de transmissão que iria afligir as famílias e a comunidade em geral. As comunidades, sobretudo as rurais, possuíam mecanismos próprios de recuperação e reabilitação de crises, resultado de conhecimentos ancestrais. Acreditavam, assim, que depois de uma guerra, quem estivesse estado exposto a ela mais diretamente e cometido actos violentos, teria que passar por um processo de limpeza e purificação, para que pudessem reaver o seu equilíbrio, reconstituir as suas identidades e iniciar uma vida normal. Passar por estes rituais era condição imprescindível para a sua reintegração na comunidade e para a reconstrução de uma identidade renovada. Os modelos psicoterapêuticos ocidentais baseiam-se fundamentalmente na terapia individual. Nestes ritos não existia verbalização dos acontecimentos traumáticos, existindo, isso sim, uma sua representação dramática. Ao enfatizar o recomeço em “branco” com outra identidade, faziam com que o indivíduo aparecesse como um “outro”. De igual modo, ocorria uma aceitação por parte de todos, do indivíduo que cometera contra eles enormes atrocidades durante a guerra. Em contraste com as culturas ocidentais, no contexto moçambicano a responsabilidade pela injustiça não é uma preocupação individual. Essa responsabilidade é um assunto que à comunidade no seu todo diz respeito.

(*)El autor o autora no ha asociado ningún archivo a este artículo