FAZER-SE MESTIÇO: A FRAUDE BRANCA NAS COMISSÕES DE HETEROIDENTIFICAÇÃO RACIAL
As Comissão de heteroidentificação racial surgem, no Brasil, principalmente a partir das universidades públicas e após as denúncias de fraude perpetradas por sujeitos brancos, nas cotas raciais destinadas à população negra. A comissão da Universidade Federal da Bahia (UFBA), localizada na Roma Negra, ou “a cidade mais negra fora da África” – Salvador, é objeto desse trabalho. A partir de uma pesquisa de mestrado realizada com a Comissão de Aferição da AutodeclaraçãoÉtnico-Racial da UFBA, essa apresentação buscarefletir sobre a fraude branca no sistema de cotas raciais que, na experiência de heteroidentificaçãoracial, faz um corpo mestiço-negro. Esse fazer corporal, por meio damanipulação estética, é compreendido dentro do dispositivo da mestiçagem, e definidocomo um conjunto de técnicas discursivo-corporais, materialmente complementarao mito da democracia racial. Dois outros fenômenos cruzam essa questão:o crescimento populacional negro no Brasil e a ampliação das políticas afirmativasdestinadas a esse grupo. Mais pessoas estão denominando-se negras e, consequentemente,reivindicando acesso às cotas. Dessa forma, o problema do branco fraudadorestá sendo pensando, neste texto, em paralelo àqueles comumente apontados como“negros de pele clara” ou “pardos”: pessoas que se tornaram negras são as mesmas quefazem um corpo mestiço-negro para acessar as cotas?