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A POLÊMICA DAS CALCINHAS : NOVAS ONDAS CONSERVADORAS, FAMÍLIA E TRABALHO SEXUAL NO BRASIL

Neste texto considero o posicionamento do governo brasileiro em relação à exploração sexual e à prostituição. Baseio-me em pesquisa realizada na web relativa ao período 2018-2021, considerando jornais on-line e canais do youtube, o site do Ministério da Mulher, a Família e os Direitos humanos e o facebook da Ministra que preside esse Ministério, prestando particular atenção à polêmica declaração da exploração sexual ser motivada pelo não uso de calcinhas por meninas pobres. Analisando-o em diálogo com leituras sócio-antropológicas sobre ideologia de gênero; direitos humanos; trabalho sexual; família e moralidades no neoliberalismo, desenvolvo dois argumentos. O primeiro é que a responsabilização pelos perigos sexuais envolvendo crianças e adolescentes coexiste com o traçado de uma noção de família desejável: tradicional, organizada segundo a suposta ordem natural das relações entre homens e mulheres, heterossexual, vinculada a uma hierarquização de práticas sexuais na qual aquelas que se afastam do sexo tido como “bom, natural, heterossexual, monogâmico, reprodutivo e não comercial, são estigmatizadas. O segundo é que a recusa a considerar o conhecimento acumulado sobre exploração sexual e prostituição no âmbito do governo federal foi combinada com a falta de políticas públicas voltadas para as pessoas envolvidas no trabalho sexual e com uma pauta de proteção da infância e a adolescência que aciona a retórica dos direitos humanos mas incentiva métodos considerados ineficazes na literatura especializada em termos de prevenção da gravidez e criminaliza o trabalho das prostitutas simultaneamente reproduzindo estereótipos nefastos ao redor da gravidez adolescente, rotulando-a como o ingresso na decadência moral.