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EU JÁ AGUENTEI MUITA GENTE NESSA VIDA: SOBRE CUIDADOS, GÊNERO E GERAÇÃO EM FAMÍLIAS CABOVERDIANAS

A presente proposta pretende pensar sobre a categoria cuidado quando atravessada pelas dinâmicas de gênero e geração na sociedade caboverdiana. Frequentemente associado ao universo feminino o ato de cuidar é de fundamental importância para as dinâmicas familiares nesta sociedade que é fortemente marcada por mobilidades de múltiplas ordens - entre pessoas, vilas, cidades, ilhas, países. O interesse de minha reflexão é duplo. Primeiramente quero pensar sobre o cuidado a partir do idioma local expresso pela categoria aguentar. Essa expressão do crioulo de Cabo Verde carrega em si múltiplos significados que nos permitem compreender o valor de cuidar na construção da pessoa ao longo de seu percurso de vida. Por meio dela poderemos adentrar nas relações de gênero e geração que se constroem no contexto familiar das denominadas famílias espalhadas (Lobo, 2014). Meu segundo movimento será o de refletir sobre políticas do estado caboverdiano que se voltam para um processo de normatização das dinâmicas familiares no arquipélago e os debates que tais políticas de governo têm suscitado na sociedade caboverdiana. Tais reflexões são resultado de pesquisa etnográfica na cidade da Praia, bem como da análise de políticas estatais destinadas a pensar e normatizar as dinâmicas familiares nos três últimos governos. O que desejo com tais reflexões é complexificar as noções de cuidar ao observar as diversas disputas sobre o universo dos cuidados: como, quando, quem cuida ou deve cuidar não compõem um campo que está dado, mas que é construído e constrói pessoas e moralidades nesta sociedade marcada por fluxos diversos.