O CUIDADO SOCIAL EM TEMPOS DE PANDEMIA DA COVID-19. DIMENSÕES PSICOSSOCIAIS DA PRÁTICA DA AJUDA-MÚTUA NA ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA.
A partir de um estudo de caso, analisamos as dimensões psicossociais da prática da ajuda-mútua (conhecida como Djunta-mon) protagonizada por jovens africanos e descendentes de africanos na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Buscamos entender quais as modalidades aplicadas de práticas de cuidado social, as competências demonstradas para a resposta no âmbito local/social e as ferramentas utilizadas para a prestação eficiente do cuidado social. Foram realizadas entrevistas (em profundidade) a integrantes de grupos e coletivos ,com diferentes perfis e formas de atuação nos bairros da AML, que se responsabilizaram pelo apoio diário às comunidades durante a pandemia, distribuindo bens alimentares e materiais entre os mais carenciados. Consideramos que a eficiência da autogestão do cotidiano da rede de ajuda-mútua, a rapidez na tomada de decisão e na identificação das necessidades, além da eficácia da ajuda demonstradas confirmam a solidez do repertório de respostas de solidariedade social historicamente enraizado e utilizado pelas comunidades de africanos e afrodescendentes em Portugal. Esses elementos mostram que foi possível, aos jovens envolvidos, acessar a tal repertório nos seus contextos de vida, em contraste com a fraca resposta institucional e as falhas de cobertura dos apoios do Estado, autarquias e IPSS junto às populações mais carenciadas. A análise refere-se, ainda, à relação entre atuação social e política no cotidiano, na medida em que a rede de entre-ajuda criada pelos jovens, além da prestação de auxílio social, apresentou-se como organização política (de cidadania) e de resistência ao modo (limitado) assistencialista e paternalista de serviço social.