UM ESTUDO COMPARATIVO DAS BIOGRAFIAS DE CASIMIRO CADETE E ALFREDO DE SOUZA
A partir das biografias do Kuadpayzu (historiador) Casimiro Cadete e do Tyzytaba’u (trançador) Alfredo de Souza, pretende-se discutir possibilidades de processos historiográficos decoloniais, reposicionando narrativas e corpos estrangeirizados em seu próprio território. A partir das falas na língua Wapichana, compartilhamos o possível dessas memórias trançadas por um parentesco forjado entre adoção e exploração. Essas palavras Wapichana atravessaram o tempo e seguem na atualidade como pontes da memória, mesmo diante da opressão e das reiteradas tentativas de silenciamento. Assim as línguas indígenas carregam séculos de reexistência e de sabedoria. Souza teve sua vida mais voltada para o interior da comunidade, entende pouco a língua portuguesa, tendo vivido de colocar roça e ensinar aos filhos e netos seus saberes e língua; ao contrário de Cadete que foi batizado, frequentou escola, foi catequista e assumiu papel de liderança, tendo passado muito tempo viajando e participando de reuniões fora. Assim esses dois tipos de vida conseguiram que a língua e cultura Wapichana continuassem e também subsidiassem a demarcação de suas terras indígenas em Roraima. Eles lembram desde a época que não consumiam sal, até do trabalho com a balata, o garimpo, até tradução da Bíblia, a instituição das escolas indígenas e a elaboração de um dicionário Wapichana por Cadete (1990).