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Mediadores na escrita autobiográfica de mulheres marginalizadas: o caso de Carolina Maria de Jesus

No estudo comparativo de mulheres brasileiras pobres pouco alfabetizadas da segunda metade do século passado, que se aventuraram a escrever sobre suas vidas com o objetivo de atingir o grande público, o conceito de mediação cultural emerge como categoria imprescindível para entender suas histórias de sucessos e fracassos. O papel dos mediadores, nas suas diferentes modalidades (desde os “descobridores” aos editores dos textos “autobiográficos”), nem sempre visível no processo de comunicação escrita, pode ser observado e analisado com as ferramentas teóricas das diversas disciplinas que convergem na antropologia da cultura escrita, focalizado em um caso concreto: Carolina Maria de Jesus, uma figura reivindicada como autora subalterna que levantou sua voz de mulher negra favelada para testemunhar a injustiça social crônica na América Latina. Através do estudo das circunstâncias de produção, circulação e recepção de seus escritos inéditos e publicados, assim como entrevistas aos atores que protagonizam hoje sua recuperação na cena pública, com a inclusão de sua obra no cânone literário, a pesquisa almeja abrir a “caixa preta” da construção de um fenómeno que vincula os mundos privado e público, popular e culto, questionando a possibilidade de mobilidade social das mulheres com reconhecimento autoral.