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As relações de poder e o acesso ao terreno de pesquisa: A imprevisibilidade como condição para a construção do conhecimento antropológico.

Esta comunicação explora a necessidade de o investigador incluir na reflexão etnográfica as imprevisibilidades relacionadas com o acesso ao terreno, como condição para a construção do conhecimento antropológico. Prestes a iniciar o meu trabalho de campo, que visa compreender o modo como o Estado Português gere a mobilidade na fronteira externa portuguesa, através da atuação do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no Aeroporto Humberto Delgado (Lisboa), fui confrontada não só com a pandemia, como também com o homicídio do cidadão ucraniano Ilhor Homenyuk, por parte de três inspetores do SEF. Tais eventos impediram a minha entrada no terreno, ao qual já me tinha sido concedido o acesso. Apesar de o objeto de pesquisa permanecer em construção através da pesquisa documental, a minha relação com o terreno tem permanecido meramente platónica, aguardando ansiosamente pela entrada efetiva. A partir das relações de poder envolvidas na negociação do acesso ao terreno, entre o investigador e os sujeitos da pesquisa, tenciono refletir sobre a dependência metodológica sentida no desencadear desta série de constrangimentos externos que adiaram a minha ida para campo. Neste sentido, busco refletir sobre como as situações com as quais tenho sido confrontada, possibilitam não só conhecimento sobre o objeto de pesquisa, como também colocam a descoberto a sua vulnerabilidade e a do investigador.