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A Serpe no desenlace da luta entre mourisqueiros e bugios em Sobrado

Uma das características das festas de mouros e cristãos traduz-se na representação performativa de um conflito de fundo histórico-cultural, com eventual disputa de espaços, imagens ou donzelas e pelo afrontamento entre sistemas de crenças. O antagonismo, termina, regra geral, com a vitória do lado cristão e, com frequência, a conversão do adversário. Estas festas revelam grande plasticidade, nas suas formas, funções e significações e tematizam o encontro gerador da comunidade consigo própria, através do diálogo com o diferente.Quer Portugal quer a Galiza tiveram um período de convivência com os mouros muito mais curto do que as restantes regiões peninsulares. No caso português, permanecem vivos o Auto de Floripes, das Neves, arredores de Viana do Castelo e a festa da Bugiada e Mouriscada, nos arredores do Porto.Na presente comunicação, proponho-me focar um ponto alto desta última festa, o do ataque mourisco ao castelo bugio e da prisão do Velho da Bugiada. Ganhando militarmente a guerra, os mourisqueiros são surpreendidos por uma enorme Serpe com que os Bugios conseguem, pelo efeito de surpresa e terror, recuperar o seu líder.A Serpe é um ente simbólico ambivalente, bastante presente na cultura popular, em particular nas festas de Corpus Christi. A hipótese que coloco é que no papel desta Serpe reside uma chave essencial de compreensão do confronto simbólico entre a comunidade sobradense e o grupo mourisco. Trata-se de explorar a consistência de uma leitura que supere a lógica derrota-vitória, sublinhando a dinâmica da sobrevivência e continuidade da comunidade que festeja.