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Dos fragmentos pelos quais se tece uma etnografia: sobre as habilidades, artimanhas e escrutínios de fazer ver e vasculhar corpos.

Esta comunicação toma como objeto de reflexão alguns fragmentos por meio dos quais o Instituto Médico Legal (IML) me foi dado a ver, durante minha pesquisa de doutorado. O entrelaçamento deste material aparentemente fragmentado, por sua vez, procurou enfrentar a negativa formulada pela Comissão Científica do IML de São Paulo, Brasil, à minha solicitação de pesquisa direcionada a esta corporação. A fim de driblar tais indeferimentos e rituais de autorização, passei a correlacionar (ou melhor, conectar), por meio de uma etnografia multissituada, aulas de medicina legal, vídeos, fotografias, slides, livros, necropsias e entrevistas que pude realizar ao longo de minha investigação. É sobre tais procedimentos de pesquisa e de escrita etnográfica que se debruça essa proposta de trabalho. Nesse sentido, esta comunicação utiliza-se dos meus próprios desconfortos frente a cadáveres e roturas himenais, para lançar luz às modalidades de conhecimento e governo destinadas a certos corpos, lesões e crimes. Na contramão de uma escrita de denúncia – contra a morosidade, falta, descaso ou violência empreendida pelas instâncias estatais –, minha aposta é que as descrições colocadas a esses campos de pesquisas devem restituir vínculos, descrever hiatos, recolocar o sangue, as lágrimas, os odores e os incômodos engendrados por destrezas tais como: vasculhar, examinar ou perscrutar o corpo e seus pedaços. Além disso, deve desnudar, trazendo a mostra através da escrita, um poderoso artificio e ardil forjado pelas técnicas de governo: os efeitos necessários e intransponíveis de fragmentação impostos a estas atuações e rotinas de trabalho.

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