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Para uma etnografia de sala de aula

A proposta recupera as narrativas de professores de escolas secundárias portuguesas sobre as suas práticas, incidindo em particular nas representações de sala de aula. Como trabalha a imaginação dos atores esse espaço, como o habita? (Bachelard,1957) Partindo da asserção de Connerton (2010) segundo a qual nenhuma temporalidade pode ser entendida sem compreender as dimensões espaciais que são o seu ingrediente intrínseco, a etnografia situa-se na sala de aula - espaço de interação de sujeitos envolvidos em dinâmicas sociais, culturais, institucionais e por isso territórios de mudança. Como lida o professor com a mudança? Como se situa no processo de diferir de si mesmo perante a multiplicidade de modos de ser que são os seus alunos? Bourdieu alerta-nos para a ilusão biográfica. Por esse motivo não se trabalha com as histórias de vida dos professores, mas sim com as suas narrativas: "Vamos ver como recrio a primeira aula que dei, e como imagino a úlltima que darei." (professor, Cascais,2017) Assume-se, com Susan E. Chase (2005) que os investigadores de narrativas contemporâneas trabalham o material empírico através de lentes (Chase,2005), nas quais se destaca a narrativa enquanto performance interativa situada socialmente. Num momento em que se olha de novo para o professor como protagonista, contrariando sucessivas leituras do ato educativo nas suas dimensões técnico-pedagógicas, didáticas, curriculares entre outras (Arroyo,2000;Nóvoa,1992; Jorge do Ó,2019) a etnografia recolhe dos atores o modo como a imaginação habita o espaço da aula, como o preenche, e como o esvazia.

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