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Registro e pós-memória em Os memoráveis, de Lídia Jorge

Este trabalho constitui um estudo a cerca dos limites do registro ligados à história e à memória do povo português, tendo como base a obra Os memoráveis (2014) de Lídia Jorge. Elaborada por meio dos testemunhos de personagens que participaram de alguma forma dos episódios que culminaram na queda da ditadura salazarista, a narrativa é perpassada pelos conceitos de memória coletiva e de memória histórica, uma vez que o mesmo fato histórico, neste caso o da Revolução dos Cravos, é visto e revisto por diferentes perspectivas. Esses relatos são coletados por três jovens jornalistas nascidos após a revolução, mas que tentam acessar por meio das memórias dessas personagens, distantes trinta anos dos acontecimentos, uma parte importante da história de seu país. O processo de reconstrução histórica proporcionado por cada um dos oito entrevistados na obra tem como tentativa identificar as limitações de um registro fiel dos fatos históricos em relação à fragilidade da memória, que tem como agravante a instabilidade ao longo do tempo. O conflito entre os testemunhos coletados por meio de entrevistas e, principalmente, a própria memória da protagonista e narradora, Ana Maria Machado, sobretudo àquela relacionada com sua figura paterna, o também jornalista António Machado, serão a base para esta análise. Buscar-se-á ainda investigar o conceito de pós-memória e o desdobramento deste para o desfecho do romance como forma de perceber como a reconstrução memorialística interfere no modo como a história é contada.