Trânsitos madeirenses: Repentismo, diáspora, pós-folclorismo
As atividades festivas geram configurações sociais e culturais com implicações em todos os domínios das sociedades. Emergindo a partir de finais dos anos 1930, o movimento folclórico madeirense traduz um desses aspetos, ao influenciar festejos, o lazer organizado e o turismo. Ele proporciona o quadro empírico que aqui se utiliza na forma duma cronologia desejada exaustiva, obtida num processo colaborativo de pesquisa e reflexão realizado com um dos seus mais destacados dirigentes ativos (Danilo J. Fernandes, Grupo de Folclore e Etnográfico da Boa Nova). Na sequência da análise preliminar feita à base de dados (projeto EcoMusic refª PTDC/ART-FOL/31782/2017), isolei o improviso oral (charamba), uma prática repentista acompanhada a viola de arame. Analisa-se uma transformação performativa “torna-viagem”: prévio ao emigrar, os embarcados, a cultura popular emigrante, as visitas à terra, a aceitação /rejeição desse legado; a rutura, o surgimento dum novo movimento de improvisadores. Defende-se que este evoluir de práticas performativas não se insere numa identidade popular, mas sim agora assumida como regional, de convergência classista. Importa redefinir a ação e o papel das manifestações do que se consideravam cultura popular. Emergem outras estéticas de ação que defino como pós-folclorismo. Circunscreve-se nos moldes seguintes: reacerto identitário, cultura de consensos sociais, desnacionalização pelo desapertar de amarras territoriais. Ensaiam-se, experimentam-se e estabilizam-se fusões de sonoridades, estilos e géneros. Renova-se a paisagem sonora.