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NUTRIR O DIÁLOGO NAS CANTINAS ESCOLARES DE ROMA: POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO INTERCULTURAL

Na Itália residem quase 5 milhões de estrangeiros. A presença de alunos filhos de imigrados é dado estrutural do sistema escolar. Relações interculturais e políticas públicas para a integração são questões sociais centrais, especialmente na escola. Capaz de fundir no material o imaterial da cultura, o alimento participa da construção identitária, é lugar favorável ao exercício de sincretismos diários. Os costumes alimentares refletem condições socioeconômicas, crenças, possibilidade de acesso a matérias primas. Os filhos dos migrantes vivem na encruzilhada, expostos a diferentes pressões: necessidade de consumar comida barata e de escassa qualidade, estímulo a formas de consumos “ocidentais”, vínculo com as tradições reforçado por pais preocupados com a perda de raízes. A definição da refeição escolar é um canal sensível para políticas públicas de integração intercultural. Na cantina escolar, processos de aculturação e educação envolvem diferentes atores, tanto em relação a aspectos nutricionais e de saúde, como à promoção da abertura à alteridade. A Prefeitura de Roma inaugura em 2008 um plano para introduzir na refeição escolar cardápios “étnicos”, relativos aos países de origem das maiores comunidades estrangeiras de Roma. O projeto é inovador, ganha o reconhecimento do Conselho da Europa. Mas sua aplicação provoca reações contrastantes. Enquanto muitos aplaudem, outros pais, docentes, administradores e políticos protestam: a defesa da tradição nacional se mistura com apelos à salvaguarda da saúde das crianças e com expressões xenófobas instigadas por fatos de crônica. Muitas escolas abandonam o projeto. Através das vozes de diferentes atores, apresentamos os elementos discursivos mobilizados em volta do projeto e suas implicações. O caso mostra como, no trajeto entre a formulação da política pública e seus destinatários, interpretações êmicas de soberania e segurança alimentar se tornam arena de disputa entre identidades culturais expostas, defesas e ameaçadas.

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