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“OS TEMPOS E AS «MODAS» DO CANTE ALENTEJANO: PRÁTICAS DA CULTURA E PROCESSOS DE PATRIMONIALIZAÇÃO”

A etnografia mostra-nos que o reconhecimento do Cante Alentejano pela UNESCO serviu para aumentar a autoestima dos grupos “detentores da tradição”, e para promover a região turística do Alentejo em benefício de entidades cujos interesses económicos são alheios aos grupos cuja cultura visam “salvaguardar”. Nesta comunicação questionamos de que forma o reconhecimento do Cante Alentejano produziu uma incomensurável paleta de “atualizações” (Jeudy 2008) que correspondem a duas perspetivas complementares: a globalização cultural e a diversidade cultural significada por referências identitárias localizadas. Como assinalou Jeudy (2008), “com os patrimónios da humanidade nada se perde” (2008: 103), e o “património imaterial” parece servir a clientela ampliada e diversificada das “classes populares” ao tornar-se “mais substancial, mais secular e mais social” (Lowenthal 1998: 14). O Cante é definido numa lógica de “autenticidade”, como expressão cultural que deve ser preservada, ao inquietar uma lógica mercantilista e seduzir a nostalgia de um mundo rural que desapareceu (Baptista, 1996). No contexto neoliberal a mercantilização do património cultural como espetáculo e lazer conduz à exploração da cultura e da criatividade popular, e implica atribuir um preço a coisas que na realidade nunca foram produzidas como mercadorias (Harvey 2005: 173). Mas aceitar a lógica mercantilista em nome de supostos modelos de “desenvolvimento económico regional”, equivale a aceitar que as práticas da cultura ficam reduzidas a artigos de consumo, a espetáculos para o turismo, sem significação identitária nem valor de uso.

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