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“Quando me convidaram, não levei a sério”: histórias de vida, hierarquias e lugares de poder no Parlamento Português

No discurso público é frequente ouvir-se falar “dos deputados” como se estes fossem um grupo social homogéneo e unificado. Estes discursos geralmente negligenciam o aspeto central que nesta comunicação irei abordar: a forma como distintas histórias e trajetórias de vida, se refletem em diferentes maneiras de pensar e exercer o poder político num Parlamento. Se para alguns deputados, estar no Parlamento foi “algo gradual e pensado”, para outros foi algo “imprevisível e inesperado”. Se alguns se sentem “peixes fora de água”, outros sentem-se “enguias em água doce”. De um ponto de vista antropológico, o que explica estas diferenças? Nesta comunicação argumento que distintas origens sociais e culturais potenciam ou inibem a possibilidade de acesso, permanência e adaptação às engrenagens do campo parlamentar. Engrenagens, essas, marcadas por lógicas hierárquicas, burocráticas e sócio-técnicas, que favorecem a capacidade de agênciamento de umas pessoas, em detrimento de outras. Assim, o Parlamento é um reflexo da realidade social e cultural, ao mesmo tempo que contribui para a sua modelação e reprodução. Defendo, então, que o campo político é um subconjunto relacional do espaço social, estruturado através de posições e disposições, a partir das quais os representantes disputam a posse do capital político, uma forma de capital simbólico, desigualmente distribuído, assente na crença, reconhecimento, autoridade e notoriedade. Capital, esse, que implica um “jogo duplo” entre a dependência dos aparelhos partidários e da influência fora do campo, estabelecendo um conjunto de fronteiras assentes em competências, linguagens, valores, retóricas e saberes, que se adquirem no processo de formação de habitus político.

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