RETORNAR: DESTRUIÇÃO ARQUIVÍSTICA
Em Portugal, 1974 e 1975 foram anos de mudança e esperança para uma nova era democrática. Mas também foram os anos em que o país teve de lidar com as pesadas heranças de seu colonialismo. Milhares de soldados desmobilizados das guerras de independência africanas começaram a chegar à ex-metrópole. Ao mesmo tempo, começam a chegar mais de meio milhão de refugiados, na sua maioria colonos brancos que viviam nas colónias africanas, fugindo da violência arbitrária que se instala nesses territórios durante o período da descolonização. Passados mais de 40 anos, a memória do fim do império Português ainda permanece um terreno repleto de fraturas, traumas e silêncios.Este artigo foca-se na curadoria de uma exposição sobre o tema do retorno. Com base em pesquisa etnográfica original, a exposição "Retornar - Traços de memória" constituiu um arquivo de testemunhos e imagens para dar conta de um passado que não encontrou ainda campo de inscrição na imaginação nacional e pós-colonial. Vários desafios foram enfrentados: Como articular memória através da constituição de um arquivo que se baseia numa experiência humana não inscrita na história, com base em imagens ilegítimas, e em testemunhos ilegítimos? Se um arquivo é tanto um início e mandamento (Derrida, 1995) , que ordem e que futuro se criam para as pessoas envolvidas, para a sociedade portuguesa como um todo, ou mesmo para a Episteme pós-colonial? ? O arquivo assim constituído procurou restituir o que o passado deixou ficar na escuridão e, indo para além dos registos de fatos, abrindo a possibilidade de rememoração (Benjamin, 1940).
(*)El autor o autora no ha asociado ningún archivo a este artículo