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COMUNICAÇÃO ELÉTRICA EM PEIXES AMAZÔNICOS

Peixes com propriedades elétricas sempre fascinaram a espécie humana, especialmente espécies como o puraquê (Electrophorus electricus) e o bagre elétrico do Nilo (Malapterurus electricus), capazes de gerar descargas de centenas de volts. No entanto, a grande maioria produz descargas detectadas apenas com o auxílio de equipamentos eletrônicos. Os peixes elétricos neotropicais são os únicos teleósteos sul-americanos que possuem órgãos ao mesmo tempo elétricos e eletrorreceptores. Estão equipados com um sistema responsável pela geração e detecção de campos elétricos com tensão insuficiente para a alimentação e defesa, mas eficiente na exploração e orientação em ambientes aquáticos de baixa visibilidade e para a comunicação intra e interespecífica. O sistema permite que os animais vivam seu contexto sócio-ambiental a um nível biológico semelhante ao funcionamento cerebral, uma extensão no mundo físico do próprio cérebro do peixe. Os peixes elétricos têm se estabelecido nas últimas décadas como um dos principais modelos para estudos neuroetológicos. Mas tais características também nos oferecem a possibilidade de analisar e descrever a comunicação animal de forma menos antropocêntrica. Poderíamos falar de um sistema linguístico fora dos canais habituais da linguagem dos primatas e outros mamíferos (visual, auditivo), que satisfazem as necessidades comunicacionais desses organismos com igual sucesso e nos fazem refletir que mecanismos responsáveis pela linguagem não são exclusividade humanas. O sistema eletrogênico e eletrossensório pode ser pensado como algo mais que codificação e decodificação de sinais, visão tradicional das ciências biológicas, e levar o estudo do sentido elétrico para áreas como a cognição, aprendizagem e linguagem, diminuindo a lacuna epistemológica entre a linguagem humana e não-humana e tornando mais produtivo o modo como descrevemos nossa relação com outras espécies em situações laboratoriais ou no campo.

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