Na Catalunha, como em grande parte do contexto europeu, as novas políticas de saúde mental têm contribuído para a medicalização das aflições humanas, embora de uma forma diferente em relação às desenvolvidas historicamente. Se podemos dizer seguindo Foucault que as políticas clássicas em saúde mental adquiriram características do modelo custodial e disciplinar, as novas incidem na auto-exploração dos estados de ânimo, de modo que os sujeitos se convertem em amos e escravos de si mesmos. É a emergência do que foi definido como psicopolítica ou biopolítica das neuroses, e aqui adicionamos a constituição de um sujeito cerebral ou cerebralizado. Tomando como base os resultados de um projeto de investigação interdisciplinar sobre o consumo de antidepressivos na Catalunha, nesta apresentação propomos uma análise dos mecanismos que permitem a incorporação popular dos relatos cerebralistas de alguns sistemas de especialistas (psiquiatria, psicologia, neurociências, etc. .) sobre as adversidades humanas e seu impacto num modelo de self, o neuro-self, onde o mundo social assume a posição de acontecimento e, em troca, o sujeito, ou melhor, seu cérebro fantasma, se torna estrutural e sistêmico. Finalmente, se discute sobre os encontros que este tipo de análise gera no debate inter e intradisciplinar.