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O futuro é ancestral? Contrapontos à ideia de smart cities

A utilização da inteligência artificial nas cidades vem sendo cada vez mais difundida estando, geralmente, associada à ideia de smart cities. Tal ideia aponta na direção de projetos e tecnologias que visariam ao aumento da qualidade de vida e maior eficiência nos recursos e serviços. Contudo, quando pensamos em cidades dos países do Sul Global, observa-se um grande abismo entre os modelos altamente tecnológicos apresentados e a realidade vivenciada, marcada por desigualdades e injustiças. Entende-se que as cidades intermediadas por dispositivos tecnológicos poderiam ampliar o controle social e a exclusão de grupos minoritários não inseridos na dinâmica informacional e de comunicação. Como transpor modelos de gestão e planejamento entre realidades tão díspares? Como pensar em smart cities sem inclusão digital? Como pensar em inteligência artificial sem cuidado efetivo com o ambiente natural? Eis algumas questões norteadoras deste trabalho. Se, por um lado, observa-se na atualidade a incorporação da inteligência artificial nos espaços da vida cotidiana e acredita-se que o futuro das cidades deve necessariamente passar por investimentos tecnológicos, por outro lado, pensamentos insurgentes apontam que, se existe alguma possibilidade de futuro, “esse futuro é ancestral” (Krenak,2022). Diante dessas considerações, o presente trabalho pretende compreender como a utilização das ideias de smart city pode aprofundar desigualdades e gerar novos tensionamentos no Sul Global. Busca-se apresentar contrapontos a partir da realidade das cidades brasileiras, apontando que a ideia de direito à cidade dificilmente caminha ao lado do que vem sendo proposto nos modelos altamente tecnológicos, que desconsideram subjetividades e particularidades histórico-culturais.

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