Video

CASUALIDADE E SERENDIPIDADE ETNOGRÁFICA: REFLEXÕES A PARTIR DE UM TRABALHO DE CAMPO MULTI-SITUADO SOBRE CONFIGURAÇÕES TRANSNACIONAIS DE INTIMIDADE

Ao longo de um ano realizei trabalho de campo etnográfico sobre configurações transnacionais de intimidade entre mulheres brasileiras e homens europeus (gringos) iniciadas durante as estadias turísticas destes últimos em Ponta Negra, na cidade de Natal, no nordeste brasileiro. Num primeiro período de cerca de seis meses estabeleci-me em Ponta Negra, referência central e agregadora da pesquisa empírica. Posteriormente, na Europa, percorri outros sítios envolvidos na densa rede de fluxos associada aos vínculos de intimidade iniciados do lado brasileiro e, parte deles, mantidos à distância segundo diversos formatos relacionais. Adotando uma “etnografia multi-situada” (Marcus, 1995), pude acompanhar os meus informantes nas suas deslocações e estadias entre ambas as margens atlânticas e, assim, apreender de forma mais efetiva a dimensão transnacional das suas relações de intimidade. Considerando a complexidade e os muitos imponderáveis desta etnografia transnacional, procuro debater na comunicação como a abordagem metodológica etnográfica é pautada por múltiplas casualidades e é particularmente propícia à serendipidade da pesquisa empírica (Merton & Barber, 2004), ou seja, à experiência de descoberta de elementos inesperados que fogem a qualquer planeamento ou previsão prévia e se revelam fundamentais para o desenvolvimento de novas perspetivas teóricas.