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O PAPEL POLÍTICO DA ENFERMAGEM: NAÇÃO E GÊNERO NAS HOMENAGENS PÓSTUMAS A ANNA NERY

Este trabalho pretende discutir, à luz de algumas reflexões antropológicas sobre formação do estado e da nação na América latina, o legado da enfermeira brasileira Anna Nery (1814-1880), que se projetou como símbolo da enfermagem nacional ao participar da Guerra do Paraguai. Nery não formulou nenhuma teoria sobre cuidados, mas foi tomada como exemplo de qualidades indispensáveis às enfermeiras e às nações a quem serviam: abnegação, compaixão e coragem. As homenagens a sua figura são numerosas e atravessaram os séculos XIX e XX. Dentre as recebidas nos últimos vinte anos destacam-se a sua inclusão como primeira mulher a constar no livro de heróis da Pátria, em 2009, e a mais recente, em 2019 – uma exposição de seus pertences pessoas, inclusive seus restos mortais, na sede do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. Visitei o Instituto nesta ocasião para acompanhar a cerimônia de lançamento da exposição e também fiz um relato extensivo do MuNEAM, Museu de Enfermagem que leva seu nome, localizado em Salvador. O resultado desta incursão etnográfica nos permite discutir alguns aspectos oriundos destas homenagens, que vão além de seus méritos individuais. Tratar-se-ia de uma correlação notável entre gênero e nação, na qual o valor do seu heroísmo profissional está relacionado a um valor tipicamente associado ao universo feminino, como o cuidado. Proponho pensar nesta série de homenagens como eventos simbólicos de construção da nação e o quanto tais simbologias se misturam à entrada e à permanência das mulheres na cena pública.

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