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OBRAS DE ARTE COMO MEDIADORAS DE RELAÇÕES: A "ARTE INDÍGENA CONTEMPORÂNEA" NO BRASIL

Apesar da violência física e simbólica que têm sofrido desde a chegada dos europeus ao Brasil, os povos originários têm sido muito presentes, tanto em representações da identidade nacional, quanto em criações artísticas. Na tela “A Primeira Missa” (1860), de Victor Meirelles, por exemplo, personagens indígenas, numerosos e passivos, compõem uma apologia colonial. Nos anos 1920/30, Correia Dias criou um design “Decô Marajoara” derivado de cerâmicas amazônicas ornamentadas, recém-encontradas por arqueólogos. Nas décadas de 1970 a 1990, Cláudia Andujar fotografou magistralmente os Yanomami, durante convivência com eles na floresta. Existiriam muitos outros exemplos. No século XXI, porém, ocorreu uma virada: multiplicaram-se iniciativas com protagonismo indígena. A última Bienal de São Paulo teve a maior participação indígena da história do evento; o prêmio PIPA de arte contemporânea vem consagrando nomes como Denilson Baniwa e Gustavo Caboco desde 2019. Discutirei por que e de que maneira as artes se tornaram, no Brasil, uma plataforma de comunicação entre mundos e epistemologias diferentes, abrindo um novo canal para diálogos e embates. Inspirada pela antropologia da arte de Alfred Gell (1996 e 1998), segundo a qual imagens e artefatos são capazes de condensar agenciamentos e intencionalidades, abordarei as obras de arte como mediadoras de relações – não apenas sociais, mas também “cosmopolíticas”, usando uma expressão do pensador indígena Ailton Krenak. A apresentação é fruto de uma investigação iniciada em 2016, que combina pesquisa bibliográfica, análise de imagens e aquilo que George Marcus (1995) chamou de etnografia “multissituada” – própria para processos distribuídos e interconectados.