A história dos hospitais psiquiátricos brasileiros, até meados dos anos 1970, é marcada pelos preceitos oriundos da década de 1920, orientados por princípios eugênicos, vistos como um conjunto de ideários reformistas e de modernidade cultural. Intimamente associada a um grupo de psiquiatras ligados à higiene mental, a psiquiatria e a eugenia passaram a estabelecer diálogos e alinhamentos que resultaram em ações que transformaram os hospitais psiquiátricos em projetos radicalizados de segregação e regeneração racial como, por exemplo, choques elétricos e defesa de adoção da esterilização involuntária. Tais premissas transformaram os ‘manicômios’ brasileiros em redutos de experimentações dolorosas, tortura e terror. Esse é o caso do Hospital Psiquiátrico de Barbacena, fundado em 1903 e localizado em Minas Gerais, na região Sudeste do Brasil. Os abusos praticados em suas dependências resultaram, ao longo de sete décadas, na morte de aproximadamente sessenta mil internos. Depois das inúmeras campanhas e mobilizações da sociedade civil, mudanças nas políticas de tratamento ocorreram e hoje o hospital tornou-se referência em qualidade de atendimento. A inauguração do Museu da Loucura em 1996, dentro de suas dependências, significou a visibilização, através da experiência turística, de um obscuro período da história da psiquiatria brasileira. Essa comunicação pretende refletir o processo de musealização ocorrido no Hospital Psiquiátrico de Barbacena a partir dos conceitos derivados do Dark Heritage e do Dark Tourism, que versam sobre a importância das visitas a locais onde dores ou mortes ocorreram e que continuam a exercer impacto na vida dos indivíduos.