A eugenia prometia o melhoramento racial por meios de reproduções seletivas e racionais. Assumindo características heterogêneas, as teorias eugênicas foram aceitas e aplicadas de forma difusa, tomando para si considerável parcela do debate científico desde 1890 até meados do século XX. Não demorou muito para que esse novo paradigma suscitasse polêmicas éticas, morais e religiosas, mobilizando obstinados defensores e ferrenhos opositores. No caso brasileiro, a eugenia e o catolicismo antagonizaram temas sensíveis, mas nem sempre foram excludentes. Tal fato pode ser comprovado a partir da análise dos discursos de eugenistas, que se autodeclaravam católicos e defendiam a necessidade de implementar medidas sanitárias comuns à “eugenia preventiva”. Mas havia temas inegociáveis: a esterilização, encarada pelos religiosos como uma desumana forma de mutilação; o divórcio; o aborto; e as restrições à taxa de natalidade. Através de massiva produção impressa, intelectuais católicos posicionaram-se frente ao movimento eugênico. Organizado por Alceu Amoroso Lima e Hamilton Nogueira, o livro “Ensaios de Biologia” publicado em 1933, é uma importante fonte para compreendermos como se posicionava parte da elite intelectual católica brasileira frente às pretensões da biologia moderna, em especial à eugenia. Constituído por nove artigos assinados por renomados pensadores católicos brasileiros, “Ensaios de Biologia” adentra seus noventa anos de forma quase atemporal e ainda capaz de encorajar frutíferas reflexões. Nossa comunicação pretende revisitar as temáticas abordadas em seus textos, assim como suas particularidades, justificativas e fundamentações, que resultaram em uma das mais importantes e contundentes críticas às premissas suscitadas pelos autodeclarados eugenistas naquela altura no país.