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TEMPORALIDADES OCIDENTAIS: DO FUTURO COMO PROMESSA À SOMBRA DA DISTOPIA

Enquanto narrativa estruturante da experiência social dos últimos dois séculos, a modernidade de há muito que apresenta sinais de não responder já aquele que foi o seu desafio fundamental: definir um rumo convergente, capaz de integrar toda a diversidade numa mesma linha do tempo e num espaço unificado. Será fundamentalmente em torno da primeira destas dimensões (o tempo) que me centrarei nesta comunicação, partindo do modo como o discurso antropológico pensou o encastramento temporal do «outro» para chegar a projeções distópicas do futuro com que a contemporaneidade nos confronta. Farei assentar a minha análise em duas obras literárias razoavelmente conhecidas «Submissão», de Michel Houellbecq, e «A história de uma serva», de Margaret Atwood. Se a primeira obra nos oferece um futiro em que o «outro» se torna dominante, concretizando temores e supostas ameaças a princípios basilares da modernidade, como a laicidade, a segunda projeta igualmente o colapso do projeto da modernidade, no caso em virtude de um retorno a modalidades de organização social prémodernas. Em ambos os casos é através do discurso religioso, ou seja de negação de um critério estrito de razão e sua substituição por uma ordem suportada na trascendência, que a desconstrução da narrativa da modernidade é operada.