A BIBLIOTECA-MUSEU DE MANUEL VIEGAS GUERREIRO E O SEU LEGADO ANTROPOLÓGICO (1912-1997)
Manuel Viegas Guerreiro (1912-1997) fez parte de uma geração de antropólogos portugueses que nas décadas de 40 a 80 do século passado desenvolveu estudos sobre as populações rurais portuguesas, moçambicanas e angolanas, resultando daí, para lá de um conhecimento multidisciplinar numa perspetiva humanista e de abrangência cultural, um espólio fonográfico, fotográfico, museológico e documental, que ainda hoje permanece objeto de estudo por parte de investigadores de diversas áreas disciplinares. Este antropólogo, em conjunto com Jorge Dias e Margot Dias trabalharam na Missão de Estudos das Minorias Étnicas do Ultramar, servindo, através dos seus relatórios, o objetivo da política portuguesa da época no sentido do conhecimento científico dos territórios colonizados como forma de afirmação enquanto potência colonial, ao mesmo tempo que se tentava conhecer as movimentações sociais e políticas junto dos antigos Tanganica, Niassalândia e África do Sul. Analisando a Biblioteca-Museu de Manuel Viegas Guerreiro, situada na Fundação homónima, verificamos que, através dos títulos das obras ali existentes se consegue compreender essa linha condutora que norteou o campo de investigação do antropólogo nas décadas de 50 a 70. Exemplo disso são os Relatórios Secretos da Missão de Estudos das Minorias Étnicas do Ultramar Português, datados de 1957,1958,1959 e 1960, sobre os quais pretendemos canalizar o nosso foco, para além de outros títulos que revelam o cuidado de Viegas Guerreiro em não deixar para segundo plano o propósito estritamente científico do seu trabalho, embora tivesse de cumprir com o que ficava estipulado pela Junta de Investigações do Ultramar.