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ORAÇÕES CRIPTOJUDAICAS SOTERIOLÓGICAS

As orações faziam parte do dia a dia religioso dos cristãos-novos que viveram na Bahia durante o primeiro quartel do século XVIII. Dificilmente os prisioneiros do Santo Ofício, acusados de criptojudaísmo, não tinham memorizada ao menos uma oração que aprenderam quando foram instruídos na religião judaica. Algumas eram longas, outras, frases curtas. Compunham a liturgia das festividades religiosas, do Shabat, dos ritos de luto; acompanhavam a realização dos jejuns de qualquer espécie; com elas encomendavam-se a Deus por qualquer circunstância, ao levantar-se pela manhã, ao partirem em viagem. Muitas destas orações mesclavam conteúdo católico, ao invocar a salvação da alma, por exemplo, com uma forma judaica. Para muitos criptojudeus a salvação só era possível pela “Lei de Moisés” e não pela de Cristo. Esta recorrência infere sobre aquilo que Cecil Roth denominou nos anos 50 de “uma teologia marrana” possível pela reconstrução da memória religiosa de seus antepassados judeus e pela compulsória experiência cristã, com uma dose da expressão clandestina de um sentimento religioso judaico. São algumas destas orações que apreciaremos e colocaremos em debate nossas proposições.