Examina-se a situação complexa de migração de indígenas para a cidade de Boa Vista, capital do estado de Roraima, que abrange, por um lado, a migração de indígenas do interior do estado e dos países vizinhos, e o processo de urbanização que está acontecendo em Terras Indígenas (TIs) próximas à capital. Há um processo histórico de migração internacional e dentro do estado, por indígenas transfronteiriços como os Macuxi, Wapichana e outras etnias que habitavam a região fronteiriça Brasil, Guiana, Venezuela, antes da delimitação das fronteiras em 1904 (Guiana), e em 1859 (Venezuela), e que têm parentes em dois ou mais países. E, também, recentemente, por indígenas que migram ao Brasil desde dentro dos países limítrofes, como os Warao do rio Orenoco e outras etnias, vistos em Roraima como “estrangeiros”. Na região de savana no Nordeste de Roraima, com a demarcação de TIs pela FUNAI, configuram-se três TIs de tamanho maior que oferecem condições de vida aos seus habitantes - Raposa Serra do Sol, São Marcos, e Jacamim - e muitas TIs pequenas, demarcadas nos anos 1980, que não sustentam suas populações crescentes, ilhadas entre fazendas e vilas. Muitos indígenas têm residências em TIs e na capital. As TIs mais próximas a Boa Vista estão passando por um processo de rápida urbanização. Examina-se a configuração atual de migrações de indígenas para áreas urbanas e o processo simultâneo de urbanização de TIs, processos que colocam em questão as categorias de “indígenas na cidade” e “em áreas rurais” usadas no Censo Nacional.