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SITUAÇÕES E CONFIGURAÇÕES DE SABEDORIA PRÁTICA: ETNOGRAFIA DE QUOTIDIANOS DE TRABALHO SOCIAL

A complexidade e a incerteza são expressões marcantes da vida contemporânea. Neste quadro de mudança social, na esfera do trabalho os profissionais que exercem atividades técnicas e intelectuais são os que mais se debatem com o desafio da possível inadequação da sua educação formal, abstrata e científica, mais apropriada para lidar com evidências empíricas gerais, padronizadas e mais ou menos lineares, face à complexidade e incerteza crescentes. Na presente comunicação analisamos a mobilização profissional de saberes práticos e experienciais (tácitos), procurando compreender a sua relevância para lidar com a imprevisibilidade das situações e colmatar as limitações do conhecimento científico. Partimos, para tal, de um estudo etnográfico com enfoque situacional sobre os quotidianos profissionais de assistentes sociais em organizações do terceiro setor do norte de Portugal, prestando especial atenção à descrição e interpretação do que estes vão fazendo e dizendo no âmbito dos seus contextos intersubjetivos de trabalho. A fim de poder captar esta inscrição quotidiana dos saberes fazer-dizer foi preciso desenvolver um modelo de análise que não separasse o conteúdo da forma de ação e que estivesse diretamente implicado com o curso do tempo presente. Deste modo, pudemos constatar a emergência de diferentes tipos de saberes práticos: o saber rotineiro e o saber improvisado, cuja ação ocorre e tem efeito prático apenas no momento presente; o saber normativo e o saber prenunciativo, cuja ação ocorre e tem efeito prático no momento presente, mas invoca coisas do passado; e o saber justificativo e o saber prospetivo, cuja ação ocorre no momento presente apenas, mas indica coisas que se projetam no futuro.