QUANDO O POETA ENCONTRA O DOUTOR: DIÁLOGOS ANTROPOLÓGICOS ENTRE JOSÉ OSÓRIO DE OLIVEIRA E ARTHUR RAMOS DE ARAÚJO PEREIRA.
José Osório de Oliveira (1900-1964) destacou-se no campo da literatura portuguesa como escritor, ensaísta, cronista e crítico literário. Autor neogarretiano, praticava também uma literatura das ideias que o distanciava de seus pares quando o assunto remetia a igualdade entre os povos, ao contrário dos nacionalistas de seu tempo, que ainda acreditavam em uma missão providencial do povo português. Talvez por isso, José Osório tenha ponderado, em sua obra, espaço especial ao estudo da literatura brasileira, exercendo profunda reflexão antropológica e sociológica sobre ela, como também sobre o próprio povo do Brasil. Estabeleceu uma rede de contatos com intelectuais renomados, dentre eles, o médico e antropólogo alagoano Arthur Ramos de Araújo Pereira (1903-1949), pioneiro em estudos etnológicos e etnográficos que tematizaram elementos da cultura material e imaterial das populações indígenas e negras do país, pautados pela convicção inabalável contra a inferioridade das raças e as tipologias e os estereótipos construídos pela medicina legal, favorecendo uma nova concepção a respeito dos antigos determinismos que condenavam à degenerescência grande parcela de seus conterrâneos. O vínculo estabelecido entre Osório e Ramos pode ser compreendida por meio de fontes primárias inéditas, localizadas no Arquivo Nacional Torre do Tombo em Lisboa (Portugal) e na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (Brasil), as quais possibilitaram reconstituir parte deste profícuo intercâmbio, assim como de suas discussões antropológicas, as quais pretendemos compartilhar por esta comunicação. Além disso, almejamos socializar nossa experiência no trato da documentação referida, a partir de metodologias específicas tanto da antropologia como da história.