MARCAS RELIGIOSAS NOS LUGARES DE COMÉRCIO DE VIANA DO CASTELO (PORTUGAL)
Ainda que os discursos sobre a secularização não sejam recentes, eles assumem uma particular expressão nas mais diversas áreas das hodiernas sociedades ocidentais. Contudo, a afirmação do desencantamento do mundo é frequentemente contrariada por manifestações de religiosidades difusas que se constituem como particularmente significativas na paisagem social, levando a que por vezes seja afirmado o reencantamento do mundo. A relação entre comércio e religião é ancestral e atual, como o atestam os mais diversos santuários que povoam a paisagem religiosa católica e que constituem como lugares de comércio. Porém, não é tão evidente que os lugares de comércio apresentem expressões religiosa, pois a burocratização do mercado expresso na macdonaldização da sociedadefaz supor formas de racionalidade nas quais as dimensões religiosas estariam ausentes da equação de produção/consumo. Esta comunicação resulta de uma pesquisa situada privilegiadamente no campo da antropologia da religião e ancorada particularmente no trabalho de campo (iniciado em 2020), e que procura indagar o lugar do religioso nos lugares de comércio, concretamente compreender motivações e significados relativos à presença de imagens religiosas nos estabelecimentos comerciais de Viana do Castelo (Portugal). Tratando-se de uma investigação em curso, os primeiros dados do terreno, que permitiram mapear a presença de elementos religiosos em 33 lugares de comércio, apenas autorizam sugerir hipóteses explicativas. Destacando-se, por um lado, a importância dos elementos religiosos como estratégia de favorecimento e proteção do negócio; e por outro, a migração de símbolos e resignificação dos mesmos, resultando, em alguns casos, na composição de paisagens religiosas sincréticas.