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Movimento indígena imaginado: tecnologia e identidade na construção do Conselho Indígena Kokama da Amazônia (Ytka)

Durante a guerra da Argélia, Fanon (1981) analisou o papel do rádio na formação da identidade nacional. Quando a única rádio existente na colônia francesa era a Rádio Argel, transmitindo em francês o ponto de vista colonialista, 95% dos receptores pertenciam aos residentes europeus. A explicação dos sociólogos apontava para uma correspondência funcional entre a cultura dos colonizados e uma suposta aversão à tecnologia. Porém, quando foi criada rádio A Voz da Argélia Livre do movimento de libertação nacional, os argelinos se apropriaram do rádio como instrumento para se conectar com a “Revolução” e a nascente identidade nacional argelina. Para Anderson, qualquer grupo humano que se forma sem que os integrantes se conheçam diretamente pode ser considerado uma “comunidade imaginada”, pois é necessário um esforço de imaginação para que possam se reconhecer com partes de uma mesma comunidade. Ao analisar a formação das nações modernas, demonstrou que os processos e tecnologias de comunicação são fundamentais para se imaginar e praticar novas comunidades. Nas últimas décadas, o fenômeno da emergência étnica tem trazido novas experiências de apropriação de tecnologias de comunicação para afirmar culturas e identidades indígenas. Um desses processos é o que está sendo vivido pelo povo Kokama nas amazônias brasileira, colombiana e peruana. O presente trabalho é uma descrição e análise do uso de grupos no whatsapp pelo Conselho Indígena Kokama da Amazônia, organização que tem mobilizado lideranças de diversas comunidades rurais e urbanas, sobretudo na região de Manaus.