Land grabbing e territorializações indígenas nas fronteiras agrícolas neoliberais brasileiras
A expressão land grabbing marca uma nova fase de apropriações de terras, iniciada nos anos 2000, que é caracterizada pela intensidade e velocidade nas transações e por novas formas de violência no campo. No Brasil, o land grabbing se concentra nas fronteiras agrícolas neoliberais, situadas na região denominada Matopiba e no Arco do Desflorestamento Amazônico (ADA). Atualmente, essas regiões concentram 63% dos conflitos por terra no Brasil, que tiveram aumento de 623% de 2000 a 2019. Também aumentou a população que se autorreconhece indígena nessas regiões, o que junto ao envolvimento dos povos indígenas nos conflitos por terra pode apontar o surgimento de processos de territorialização indígenas. A proposta do trabalho é analisar a influência do land grabbing sobre esses processos a fim de compreender como as novas características associadas a essas transações de terras se manifestaram no Matopiba e no ADA, como e quais povos indígenas foram impactados e como eles responderam às novas pressões fundiárias. Os dados levantados apontaram que land grabbing inviabilizou a continuidade dos modos de uso e ocupação indígenas por expulsão direta ou pela desestruturação das condições ecológicas locais devido à instalação de empreendimentos agrícolas, apropriação para conservação ambiental e/ou obras de corredores logísticos. Os povos indígenas impactados se mobilizaram politicamente dando visibilidade à questão fundiária indígena e reivindicando a proteção e demarcação de terras pelo Estado, o que caracteriza uma nova onda de territorialização indígena no Brasil