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Evolução da linguagem, deriva natural e linguagem não humana

Nas últimas décadas, as investigações sobre a evolução da linguagem - quando, como e por que as línguas modernas surgiram e se desenvolveram na linhagem humana - voltaram a interessar a comunidade de linguistas após um hiato de um século, ainda que, em outros campos do conhecimento, o tema nunca tenha deixado de suscitar interesse. Teorizar sobre as origens da linguagem sempre trouxe implicações epistemológicas e políticas para as disciplinas envolvidas, pois toca em áreas sensíveis de uma compreensão sociobiológica do humano. De um lado, reafirma a excepcionalidade do humano de modo legitimado no discurso científico, pois atende o consenso de um cenário evolutivo, ao mesmo tempo em que preserva a singularidade, e, menos assumidamente, superioridade, cognitiva, de nossos coespecíficos. Por outro lado, investigar o fenômeno implica aceitar a possibilidade de organismos não linguísticos ou pré-linguísticos no interior de nossa linhagem, e estender, a organismos não humanos, fisiologias, capacidades e comportamentos antes considerados exclusivos da constituição e da expressão da linguagem no humano. Com a ajuda dos recentes e crescentes estudos animais nas ciências humanas e sociais, e de uma abordagem sistêmica da evolução e das relações coontogênicas – incluída a linguagem -, em especial a Teoria da Deriva Natural, de Maturana e Mpodozis, proponho refletir sobre as dificuldades – disciplinares, políticas, epistemológicas – que nós, cientistas, temos para escutar o que outros organismos têm a dizer, bem como sugerir alternativas de investigação que, segundo os caminhos descritivos e explicativos que adoto aqui, me parecem iluminadoras.