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A guerra à Covid-19: as metáforas bélicas como recursos de conceptualização do vírus e da pandemia

Desenvolvo um exercício compreensivo sobre construções sociais em torno da pandemia de Covid-19, considerando para tal conteúdos jornalísticos online segundo uma perspetiva inspirada no desígnio etnográfico da procura de sentidos. Constato que as metáforas bélicas assumem um papel hegemónico como recursos semânticos privilegiados de conceptualização da crise sanitária e do que é feito, a vários níveis, para lidar com a situação de emergência. Estas metáforas expressam-se desde a escala microfísica de caraterização do vírus e da sua relação com o organismo humano à escala social da epidemiologia da infeção, das respostas socio-sanitárias, das implicações geopolíticas e das expressões identitárias de diferentes agentes, sobretudo dos profissionais que atuam nas esferas da ciência e da saúde. A equivalência simbólica entre a guerra e a doença (biomilitarismo) manifesta-se em diferentes discursos (v.g., científicos, leigos) sobre diversas enfermidades, tais como o VIH/Sida, o cancro, a malária, a síndrome respiratória aguda grave (SARS) e o Alzheimer. No caso da Covid-19, ironicamente, a pandemia que atrai tantos tropos que remetem para a guerra e o militarismo tem-se constituído, em simultâneo, como um poderoso campo de indução de guerras tácitas, dando azo a múltiplas disputas político-ideológicas e tensões geopolíticas.

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