PESSOAS, POESIAS E OS DESAFIOS DE UMA ETNOGRAFIA SOBRE PALAVRAS EM ATO
Esta comunicação visa a delinear algumas questões metodológicas sobre etnografias que tem a linguagem como elemento central. A partir do material etnográfico sobre cantorias de pé-de-parede, realizadas no nordeste brasileiro, pretendo problematizar as especificidades de uma etnografia que se dedica a refletir sobre “palavras em ato”. Quais são as singularidades epistemológicas de uma etnografia que lida com diferentes modos de expressão – sentimento, honra, prestígio – por meio do discurso poético? No caso da etnografia da linguagem, quais são os limites da representação do outro, considerando que os signos nativos e os seus significados podem ser sistematizados numa modalidade sensorial distinta daquela do pesquisador? Partindo da proposição de que “O mundo falado é um gesto, seu significado, um mundo” (Merleau-Ponty, 1862:184), qual é o lugar social da palavra falada na sociedade estudada? Para tanto, explorei o mundo da poesia improvisada do nordeste brasileiro, de modo a problematizar o caminho analítico percorrido para dar conta de duas questões: qual é o lugar da poesia na vida daquelas pessoas? É possível assegurar que ela exerça uma função significativa na comunicação verbal da região? Refletindo sobre a importância da forma versificada para comunicar, expressar, convencer, etc., na arte verbal nativa, levantei questões sobre a proeminência da audição no processo de construção e significação do espaço. Identifiquei a partir da ideia de função emotiva da linguagem, que os versos poéticos, devido à ambiguidade de seus recursos estruturantes, em muitas situações, podem neutralizar o conflito, sem coibir a emissão da mensagem ou o debate.
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