PRIMEIRAS FASES DAS TRAJECTÓRIAS DA EMIGRAÇÃO PORTUGUESA PARA FRANÇA (1957-1974): ATRAVESSAR ESPANHA CLANDESTINAMENTE, PRIMEIRA HABITAÇÃO E PRIMEIRO TRABALHO
Esta comunicação resulta do trabalho realizado enquanto bolseiro do projecto “Além do fracasso e do maquiavelismo. A emigração irregular portuguesa para a França, 1957-1974”, coordenado por Victor Pereira. A partir da realização de 72 entrevistas semidirectivas a emigrantes, passadores e guardas-fiscais, em 2011 e 2012 nos distritos de Coimbra, Castelo Branco, Vila Real, Bragança e Porto, pude aceder a várias narrativas de vida de emigrantes portugueses, identificar e analisar as diferentes fases das trajectórias migratórias.
Caroline Brettell refere que a recolha de narrativas de vida permitem perceber a forma como as diferentes políticas de estado constrangem um fluxo migratório particular e a forma como os emigrantes respondem a esses constrangimentos. As narrativas de vida, segundo a antropóloga, ilustram o contexto (familiar, local, nacional e internacional) em que as decisões são tomadas, as acções realizadas, frisando o modo como estas são influenciadas pelo espaço social (Brettell, 2003: 43). Maria Beatriz Rocha-Trindade considera que os itinerários migratórios dividem-se em várias fases: tomada de decisão de partir, a preparação da partida, a viagem, a instalação, a fixação e o “imaginado regresso à origem, que a ter lugar iria fechar o ciclo migratório” (Rocha-Trindade, 2010). Focalizarei duas fases do processo migratório iniciado na década de 60 e em direcção a França: a viagem e a instalação. A partir da análise das narrativas de vida dos emigrantes, procurarei demonstrar a importância das redes sociais nas estratégias usadas pelos emigrantes para sair do país e para ultrapassar as dificuldades sentidas durante o primeiro período em França.
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