Discutimos a categoria empírica “hábito alimentar” que guarda presença dominante no campo científico da Alimentação e Nutrição, cujos usos e sentidos relacionam-se com a ingestão de alimentos a ser imperativamente modificada com o objetivo de curar ou tratar doenças e, preventivamente, em função de riscos de obesidade e doenças crônicas e degenerativas. Registramos a larga predominância de pesquisas que, em face do que identificam como “hábitos alimentares errôneos”, concluem pela necessidade de adoção de “hábitos alimentares saudáveis” sendo estes orientados pelo modelo biomédico que sobre valoriza a necessidade celular de nutrientes em detrimento dos aspectos sociais, culturais, subordinando mesmo estes últimos à esfera do biológico. O caráter inexoravelmente completo do fenômeno alimentar impõe a ampliação dessas abordagens hegemônicas, Para tanto, acreditamos que o conceito “habitus” de Pierre Bourdieu pode trazer substantivo enriquecimento ao campo alimentar-nutricional dada sua afiliação às Ciências Humanas e sua potencial contribuição discussão conceitual e teórica dos elementos simbólicos presentes na comida. As disposições dos sujeitos para tais ou quais práticas alimentares orientam-se, não somente para a prevenção ou cura de doenças como querem os afiliados à racionalidade nutricional, mas também por suas posições jogo da construção de capitais diversos na vida cotidiana. Relações sociais no mundo concorrencial capitalista contemporâneo, no qual felicidades, realizações e valores estão atrelados ao que se consome, impõem a adoção de perspectivas mais amplas e, nesse sentido, sugerimos considerar o “habitus alimentar” como caminho para compreensão das práticas alimentares, incluindo a saúde.

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