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As chegas de Bois em Montalegre: memória, etnografia e salvaguarda.

As chegas de bois são combates de touros presentes em diversos concelhos rurais do Norte de Portugal, com destaque para Montalegre. Neste concelho, durante várias décadas, as chegas de bois eram realizadas entre bois do povo, animais que, como o nome indica, eram de posse coletiva, e, por isso, símbolos da virilidade, fecundidade, força e honra de cada aldeia; fazendo, então, com que cada chega fosse uma transposição simbólica do combate entre aldeias. Porém, com o passar dos anos, e após o fim do comunitarismo agro-pastoril, as chegas conheceram diversas alterações, entre as quais se destacam: o surgimento de combates entre touros de proprietários privados; e a organização, por parte da Câmara Municipal de Montalegre e da Associação Etnográfica O Boi do Povo, de campeonatos – que, para além de contribuírem para a continuidade desta prática, são uma forma de dinamização das raças autóctones, como a raça bovina Barrosã. Posto isto, com este trabalho, apoiado essencialmente na observação participante, em entrevistas e na análise bibliográfica e documental, é pretendido: apresentar e interpretar memórias e símbolos destes combates no período do boi do povo; analisar as alterações das chegas no passado recente e as suas dinâmicas atuais; avaliar a relação entre os proprietários privados e os seus touros de combate, aspeto que será abordado em articulação com a atual reavaliação (científica e ética) das relações entre animais humanos e não-humanos. Por fim, é, também, abordado o presente interesse pela patrimonialização e salvaguarda de práticas tradicionais, em particular, quando estas são controversas.