No dia 30 de março de 1998 a repórter Zileide Silva, encarregada da cobertura dos assuntos políticos em Brasília, faz uma reportagem, exibida no telejornal de maior audiência do país, sobre o caso peculiar de uma fêmea babuíno, residente do jardim zoológico de Brasília, que traíra seu parceiro “Otelo”. Seu nome era “Capitu” (célebre personagem do romance “Dom Casmurro” do escritor brasileiro Machado de Assis) e desenvolvera comportamentos em alguns aspectos raros para um babuíno. Além de supostamente subverter a dinâmica de dominação masculina, característica da espécie, Capitu desenvolvera a capacidade de nadar, hábito pouco comum entre os babuínos, a fim de alcançar seu objetivo (os babuínos ficavam separados em ilhas no zoológico). O presente trabalho pretende explorar o caso supra-citado e situá-lo junto a outros eventos que manifestam intervenções em mundos compartilhados entre humanos e animais não humanos. Da forma como são enunciados nas mídias, esses eventos à medida em que tendem a problematizar o papel da suposta “Natureza” aproximam-se na reificação de comportamentos sociais humanos que dizem respeito às questões de gênero e sexualidade. Esse aparente esvaziamento de uma política antropocentrada fornece subsídios para a repolitização de questões abrangentes como o direito e a autonomia sobre os corpos, agora sob novos referenciais animalistas. Somam-se ao episódio de Capitu outros mais recentes como o da “Macaca nigra fotógrafa”, na Indonésia, e da “macaca langur parteira”, na China, que também podem ser analisados sob a perspectiva de certa política animalista para tratar de questões de fundo humanas. Os prolongamentos das políticas humanas e não-humanas já foram temas de estudos clássicos como os de Hrdy (1981) e Haraway (1989; 1991), entre outros, cabe agora atualizar à luz das novas políticas ontológicas o que esses eventos agregam às pautas científicas e militantes.

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