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MEMÓRIAS EM CONFLITO, FUTUROS EM JOGO: O '25 DE ABRIL' E AS ELEIÇÕES LEGISLATIVAS E PRESIDENCIAIS EM ÉVORA, PORTUGAL.

Neste trabalho, analiso como identidades e projetos políticos são influenciados por disputas em torno de narrativas históricas. Demonstro ainda como indivíduos e coletividades usam do passado para a conformação do presente e para a projeção de cenários futuros. Realizo trabalho de campo no município de Évora, na região do Alentejo, em Portugal, atualmente governado pelo Partido Comunista Português (PCP), com maioria absoluta. Entre abril e maio de 2015, presenciei diversas ações públicas de comemoração da Revolução de Abril 1974, marcadas pela defesa da visão comunista e pela reclamação de “um novo Abril”, dado o contexto de austeridade econômica. Durante as duas últimas campanhas eleitorais, narrativas conflituantes sobre a história contemporânea portuguesa foram disseminadas pelas fações em disputa. Enquanto a coligação Portugal à Frente passava ao largo do “Abril” e os candidatos do Bloco de Esquerda e do Partido Socialista citavam-no amiúde em seus discursos, os comunistas alicerçavam sua plataforma eleitoral na sua versão sobre a Revolução, a fim de amealharem votos junto aos eborenses, os quais já lhes vêm garantindo consistente apoio popular. Assim, reforma agrária, proteção de direitos trabalhistas e soberania portuguesa no contexto da União Europeia foram temas sempre presentes nos discursos comunistas, contestados ou atenuados pelas demais estruturas partidárias. Nas entrevistas realizadas, as diversas narrativas foram repetidas pelos distintos eborenses, articuladamente à afirmação da “identidade alentejana” – esta marcada pela consciência da desigualdade social e pelas lutas políticas –, de modo a demonstrar o valor da memória coletiva sobre escolhas eleitorais individuais.

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